Loading...

22 Jun - 21 Jul 2024

Menos que nada não é igual a tudo

João Mariano · Exposição de Fotografia

Exposição de Fotografia

Já lá vão sete anos desde a primeira fotografia que fiz, durante alguns exercícios de aquecimento, momentos antes do início de "Klaxon", espectáculo de novo circo da companhia francesa Akoreacro. A calma, a tranquilidade e o equilíbrio que dessa imagem emanam são a antítese daquilo que foi o frenético e intenso espectáculo que se seguiu. A visão do vazio das bancadas, que momentos depois encheriam até não caber um cabelo entre os corpos da audiência, é ela também antagónica à maioria dos espectáculos a que assisti e fotografei. O calor dentro do chapiteau, instalado na mais alta sede de concelho do Algarve, contrastava com a invernosa noite monchiquense… antíteses, antagonismos e contrastes são palavras-chave neste conjunto de imagens. No entanto, há outras (palavras e fotografias)… Voltemos a essa primeira imagem.

O olhar confiante, sereno e cúmplice do acrobata que me olha nos olhos sem qualquer pudor ou receio são para mim a melhor prova de que estou lá sem estar. E é esta a forma de estar que quero mostrar através destas fotografias. Abrir uma excepção e mostrar aquilo que não é visível para a grande maioria do público. O lado de lá. Os momentos antes e depois de tudo acontecer. A intimidade, uma lágrima de dor ou de felicidade, uma luz que trespassa e atinge sem mágoa nem mácula, mas que deixa uma marca. Algo que não se vê habitualmente. Os olhares tolerantes que se trocam, os gestos que se pensam para mais daqui a pouco, os movimentos que elevam estruturas e esticam formas. Tudo sempre em sintonia ritmada com a envolvência e com os envolventes. Ser parte de um todo sem perder a unicidade. Observar calmamente, frequentemente, atentamente sem tornar o olhar intrusivo. Estar longe e perto ao mesmo tempo. Acções e reacções transformadas em espaços de partilha de actividades. Paisagens contidas, exíguas e ao mesmo tempo imensas e intensas. Pequenos espaços grandiosos. Espaços para criar, imaginar, vislumbrar e procurar conhecer, sempre e ainda mais, o menos visível.

O título deste trabalho é retirado de uma passagem de “A Saga/Fuga de J.B.”, maravilhosa obra de Gonzalo Torrente Ballester (José Saramago dizia acerca dela que a sensação que tinha tido ao lê-la só era comparável à que sentira ao ler "D. Quixote de la Mancha" de Cervantes). Este título, para além de sintetizar aquilo que quero mostrar (ou não mostrar) com as minhas imagens, tem implícita uma forte mensagem subliminar que cada um poderá decifrar à sua maneira.